segunda-feira, 22 de junho de 2009

Por Terras de LEIRIA

OBJECTIVO: Vivemos por vezes perto de paraísos e a corrida de cada dia ofusca a beleza de lugares que diariamente nos tornariam os nossos dias mais felizes se pudéssemos parar por momentos para VER, CHEIRAR, OUVIR e SENTIR. É o que vos proponho nesta série de passeios nas redondezas das nossas cidades. Comecei por LEIRIA, onde o amigo Brites "ciceroneou" um lindo dia de convívio.


A MANHÃ: O encontro estava marcado para as 12h no coração de Leiria. Alguns dos convivas só se conheciam por E-Mail e os primeiros momentos foram de apresentação, mas breves, porque de imediato as empatias de meses e meses de escrita se fortificaram nos sorrisos francos de cada um, espelho de almas sãs predispostas a se darem.


Partimos então para o almoço que o Brites tinha reservado.
Nada melhor para criar laços que uma mesa, e foi assim que saímos, enlaçados na simplicidade do bem "saber estar" do Brites, do humor permanente do Fernando contrastando com o discreto mas cúmplice JP e a sua "Agua Castelo", e do charmoso Norberto "dos cortinados" e sua linda mulher...depois de termos comido, comido, comido até mais não poder, e sem álcool na mesa, partimos então para uma caminhada pela cidade muito bem conduzida pelo Brites.



A TARDE: Estava na hora de regressar às "burras" na descoberta dos lugares das redondezas. Partimos em caravana em direcção ao mar. Na costa as praias seguiam-se, (Pedrogão, Vieira, São Pedro Moel, Paredes da Victória, Nazaré) sempre precedidas por pontes e caminhos em madeira que serpenteavam por entre o areal como veias levando as gentes às entranhas da pedoforma geológica ao longo da costa Atlântica. Tudo estava limpo e por estrear como fato em dia de festa e só de olhar apeteceu-me dizer...«Obrigado quem pensou isto...e obrigado gentes de Leiria por saberem manter!». Ao longo de várias dezenas de Km uma pista para bicicletas ligava cada uma das praias, convidando os utentes a uma utilização mais ecológica dos meios.

Virámos para dentro, para o interior, e de imediato fomos engolidos por um bosque de árvores centenárias, onde em ninhos semeados, as famílias descançavam do repasto abrigadas do sol, acariciadas pela aragem fresca e o aroma a terra que perfumava o ar. Continuamos penetrando na Mata de São Pedro, e os sons do sibilar nas folhagens confundiam-se com o cantarolar dos pássaros. No fundo, como harmónico contra baixista, os riachos uniam todos os instrumentos num concerto de paz e equilíbrio.

Parámos. Ver, ouvir e sentir aquele lugar paradisíaco não bastava e quisemos tomar-lhe o sabor. Bebemos das suas entranhas a água cristalina que a rocha brotava e ali, sentados, bebendo água, o tempo passou enquanto cada um se entregava num convívio que me lembrou os meus tempos de menino... porque só as crianças sabem estar e ser puros como aquele momento.


A tarde ameaçava terminar e fomos acabar na Nazaré. Motivo para mais uma "lanchinho" ajantarado e a confirmação de que ali não estavam apenas 10 "gajos" que andavam de moto, mas éramos efectivamente um grupo com sintalidades próprias e laços estabelecidos.

A noite escureceu o dia e antes do meu regresso ainda quis acompanhar
o grupo a Leiria, onde tudo começara 12 horas atrás.

Novas cidades nos esperam,..
Mais Brites conhecedores das belezas da sua terra...
E mais crónicas para partilhar convosco estes momentos de vida.

OBRIGADO AMIGOS...ESTIVEMOS JUNTOS

FOTO: Aninhas, Brites, P.Gavino, Victor, JB, Mariana, Fonseca, Sonia, Norberto, Paulo, Fernando, Luis

quarta-feira, 17 de junho de 2009

11ª Portugal Lés a Lés (Eq. 98)

A REPORTAGEM POSSÍVEL:

Viagem, VT, Prólogo: http://www.youtube.com/watch?v=waEbEA8KckM

1ª Etapa: http://www.youtube.com/watch?v=ReLc4wGcbBI

Avarias, Partidas:http://www.youtube.com/watch?v=m20YG9bwl5w

2ª Etapa: http://www.youtube.com/watch?v=IdR8ZypViAI

A NARRATIVA DE EPISÓDIOS:

  • A VIAGEM E O PRÓLOGO

Fiz a viagem até Boticas num grupo com uma Vespa... "Que grande seca..." pensei eu mas no fim "Que grande lição...". É que para viajar de moto o essencial é o espírito. Os GPS, os punhos aquecidos, os bancos com gel e todas essas mordomias são acessórias. GRANDE PAULO (motar da vespa).

As V.T. foi a desorganização do costume. Não tanto por culpa da organização pois neste país ninguém está habituado a respeitar horas. É tempo perdido tentar organizar horários para 1000 pessoas com intervalos de 30 segundos. Aparecerá sempre alguém a colocar-se 2 horas antes na fila (entupindo a circulação) ou se atrasando entrando depois à má fila subindo passeios e causando o caos...

O prólogo foi uma agradável surpresa... fiquei a pensar que ainda tenho de passar um fim de semana por estas paragens com a minha filha de 4 anos para ela conhecer como se "vivia" no campo em Portugal. MUITO BONITO.

VER FILME: http://www.youtube.com/watch?v=waEbEA8KckM

  • 1ª ETAPA

Todos esperávamos ansiosos pelo inicio do nosso Portugal Lés a Lés e a organização não nos desiludiu com o itinerário escolhido para esta 1ª etapa. Infelizmente a reportagem não recorda todos os lugares lindos por onde passamos, e sobretudo não expressa as dificuldades que por vezes tínhamos de vencer para lá chegar, (tão atarefado estava em não levar a minha menina ao chão que não peguei na câmara de filmar), mas fica-nos gravado na memória da alma, esses momentos fantásticos de entre ajuda e companheirismo e a satisfação de cada dificuldade vencida para a descoberta de outro lugar perdido entre o verdejante norte de Portugal.

VER FILME: http://www.youtube.com/watch?v=ReLc4wGcbBI

  • AVARIAS

Todos preparamos um passeio destes com algum cuidado. Também eu fiz algumas melhorias e revisões cuidadas na minha Vara para que nada estragasse a aventura. Até pus uma bateria nova não fosse o "Diabo tece las". Mas quando terminei a 1ª etapa a e tentei desligar a Vara, ela começou a disparar o starter do motor e mesmo sem chave na ignição não parava... até que a bateria morreu! . O DIABO TINHA-AS TECIDO!!!!

Chamei a assistência mecânica. Só me ocorria o pior cenário. Tinha sonhado tanto com esta aventura, protelado outros objectivos, sacrificando outras prioridades e agora ia regressar de Rodoviária para Lisboa. Não tinha hipótese... agora toda a gente queria era jantar e descansar para o próximo dia. E ali fiquei eu junto ao palanque, parado, olhar perdido buscando ajuda, tropeçando na azafama dos outros participantes, digerindo com dificuldade as perguntas dos curiosos e... caiu a noite enlutando as minhas expectativas.

A praça ficou vazia, ali e acolá um colete amarelo (organização) arrumando atarefadamente o material. Um deles, Rui da Touratech, falou para a assistência confirmando-me que me viriam buscar... MAS QUANDO pensei impaciente. Finalmente a ajuda chegou!


Os diagnósticos eram diversos... bobina de chamada, escovas do starter colado... mas os homens da BMW não mexiam na minha menina.

Eram 23 horas. Há 3 horas que buscava ajuda e cada vez acreditava menos que alguém me pudesse por no palanque da 2ª etapa. O desespero enchia-me o estômago, vazio de comida, e nauseava-me o espírito. Foi então que apareceu o Sr. Saraiva e a sua equipa de técnicos que puseram o coração da minha menina a bater de novo... mas tinham apenas estancado a hemorragia. Era preciso substituir peças ou não aguentaria mais uma etapa de 600 km com 40º de temperaturas alentejanas. Chamada para ali, chamada para acolá, e eu olhava-os incrédulo convicto que àquela hora nenhum concessionário em Portugal teria a peça que eu precisava.

Mas o Sr. Saraiva não desistiu e às 4 da manhã saí do concessionário Honda em Castelo Branco onde o Sr. Valério me resolveu o problema. Era apenas mais UMA BATERIA NOVA que afinal, nem bobinas de chamada nem coisa nenhuma estava com maleita.
OBRIGADO SARAIVA, OBRIGADO VALÉRIO,
OBRIGADO ORGANIZAÇÃO DO LÉS A LÉS.

VER FILME: http://www.youtube.com/watch?v=m20YG9bwl5w

  • 2ª ETAPA

A 2ª etapa levava-nos a Olhão e aguardava-nos longas rectas de asfaltos manhosos sob temperaturas equatoriais. Para quem optou por vestir os seus blusões com protecções desesperou no forno, onde o corpo chorava um litro de suor por hora. Quem desistiu da segurança e viajava de t-shirt não tinha mãos a medir com o protector solar 40.

Pelos intermináveis caminhos alentejanos ansiava pela brandura do Algarve, e já nem um ou outro povoado mais interessante me captava a atenção. Só queria água e Algarve! Não dormia há 48 horas, o calor aliado ao cansaço forçavam-me as pálpebras serrando cortinas, querendo proteger-me da intensidade dessa luz. Eu lutava para ver o caminho e não perder a coluna que me antecedia. O suor e o protector solar inundavam-me a vista e no desespero de os limpar acabei por os inflamar a ponto de não os poder abrir. Felizmente os "pingos do conforto" resolveram-me o problema, a mim e a mais uns quantos que vieram a ter a mesma dificuldade!

Mas o Algarve reservava-nos muitas surpresas e revelar-se-ia um falso coito. O percurso seleccionara caminhos por vales e serras Algarvias onde só as cabras e os burros costumavam passar. O desafio agradou-me particularmente, acho mesmo que salvou esta 2ª etapa da monotonia duma travessia alentejana, marcada por um almoço menos bom onde o feijão frade se zangara com o atum, azedando o pitéu e donde apenas se salvara uma laranja seca e uma garrafa de água.

Para a maioria dos participantes estes troços apresentavam-se demasiado técnicos e pouco compatíveis com todo o tipo de motos, quebrando um pouco a tradição do Lés a Lés. Muitas quedas, muitos furos... momentos difíceis para quem não vinha devidamente montado e calçado para estas trialisses. (A organização tinha proposto no entanto alternativas até Olhão e alertado para as dificuldades)

Para mim foi um gozo ver a minha menina arregaçar as mangas e meter as mãos (pneus) na massa (terra) não se fazendo rogada a nenhum sacrifício. Foi fácil acompanhar as GS 1200, sempre muito bem pilotadas por gente experiente nestas andanças, o que me deixou muito vaidoso da minha Vara contrariando mais uma vez os que dizem que as Varaderos são muito pesadas para andarem fora de estrada.
MAS NÓS NÃO TEMOS DE AS LEVAR AOS OMBROS?!

Acabei exausto, com quase 1500 Km percorridos em dois dias e sem dormir um minuto, sem jantar e sem almoçar! Mas se o corpo se vergava agora ao esforço exigido, o brilho nos olhos espelhava a alegria de alma que me transbordava no coração e me fazia já sonhar com a próxima aventura.

Olhei o Carlos, companheiro de equipa sem igual, que me acompanhou desde Boticas nos bons e maus momentos, partilhando as alegrias das descobertas que o percurso nos ia desvendando, partilhando os momentos difíceis duma desistência que se avizinhava, trocando o seu descanso pela companheirismo que faz de alguns (poucos) verdadeiros motars. Olhei o seu olhar e sem palavras gritámos:



CONSEGUIMOS... ATÉ PARA O ANO!

VER FILME: http://www.youtube.com/watch?v=IdR8ZypViAI